Em 1990, tendo sido aclamado membro da Academia Pernambucana de Letras, João Cabral de Melo Neto viajaria ao Recife e visitaria Francisco Brennand. Sabendo de nossa admiração pela obra do poeta, Brennand então nos convidou para o encontro.
Em 2 dias —sem que houvesse encomenda ou contratante— concebemos a arquitetura de um monumento dedicado à obra do poeta pernambucano.
Na verdade, ao invés de um desenho, de uma forma, concebemos um algoritmo para geração automática da solução arquitetônica a partir do ‹Quadrado de Duijvestijn›: A solução ‹simples› e ‹perfeita› para o chamado ‹Problema da Quadratura do Quadrado›. (Uma Quadratura —ou dissecação— ‹simples› e ‹perfeita› é a que obedece a dupla condição: [I] Divide o quadrado em quadrados todos desiguais; e [II] Não apresenta subconjuntos que formem outros quadrados.)
O grande Cubo, virtual, transparente, seria construído com linhas e planos: perfis e lâminas de aço inoxidável, soldados entre si em estado de tensão permanente. Como uma gigantesca ‹harpa cúbica›, capaz de vibrar em ressonância à mais leve brisa; ou aos passos de um visitante disposto ao risco de escalar as plataformas.
O encontro com João Cabral nunca veio a ocorrer —O poeta não veio ao Recife nem compareceu à cerimônia de sua posse na Academia.
Restaram os planos da arquitetura concebida como uma homenagem ao mais arquiteto dos poetas.
—P.R.A. • 1993.
«O número quatro feito coisa
ou a coisa pelo quatro quadrada,
seja espaço, quadrúpede, mesa,
está racional em suas patas;
está plantada, à margem e acima
de tudo o que tentar abalá-la,
imóvel ao vento, terremotos,
no mar maré ou no mar ressaca.
Só o tempo que ama o ímpar instável
pode contra essa coisa ao passá-la:
mas a roda, criatura do tempo,
é uma coisa em quatro, desgastada.»
—J.C.M.N.: «O Número Quatro», 1975.